Tem coisa que eu devia guardar pra mim #1
Gente que se acha mediana me irrita
Eu sei lá porque um monte de gente na internet tem gostado de dizer que se acha na média. Na minha cabeça simplesmente não faz sentido uma pessoa se colocar na posição de medíocre porque quer.
Às vezes eu acho que é o “novo biscoito” porque quando você se coloca na posição de uma pessoa mediana, imediatamente quem te acha acima da média vai te corrigir. A crise é econômica, política, estética e psicológica.
Meu pai sempre me ensinou que eu não era melhor do que ninguém. Meu tio costuma dizer que tem sempre alguém “mais” do que você. Mais inteligente. Mais feio. Mais bonito. Mais medíocre. Só que o que me deixa com a pulga atrás da orelha nesse movimento é:
Qual é a sua régua?
Como você mede o que é a média se a gente tá levando em consideração toda a humanidade?
A estratégia da minha mãe era sempre mirar no 10 pra tirar 8. Então qual a razão de você se classificar no 5 antes de qualquer coisa? Nem parece inteligente.
Talvez o lance seja o conforto. É incômodo saber que metade do mundo é melhor do que você, mas é confortável se colocar numa posição em que existe um monte de gente que é pior também. Acontece que o conceito de média não faz sentido nenhum porque se esse tanto de gente que fala “eu sou mediano” realmente for, como saber se eles tão DE FATO no meio?
A crise agora é física.
Não dá pra dois medianos ocuparem o mesmo lugar mediano no espaço.
Então você aí que acha que é mediano, segue o plot:
Tem gente que é mais mediano que você.
E se essa régua da mediocridade tem a ver com a maneira com a qual os outros te veem, eu venho na função de te tirar dessa métrica dos infernos e dizer que eu não te vejo mediano. Eu te vejo muito acima da média. E às vezes abaixo. Mas nunca no meio.
Porque o meio é o espaço do conformismo. De quem não tenta. De quem não se posiciona. De quem se isenta. De quem abraça a própria insignificância.
E se você se sentiu ofendido e quiser revidar é só me classificar como média aí na sua régua. Seja ela qual for.
Eu desisti de um monte de coisa
E eu acho que desistir é um ato de insistência. Sempre foi muito difícil pra mim deixar as coisas pela metade porque em algum momento me disseram que era feio não terminar. Acabou que nessa eu fiz um monte de coisa que eu nem queria fazer. Perdi meu tempo, gastei minha energia e não adiantou nada ficar até o final.
Então eu acho que desistir tem sido o meu maior exercício da vida adulta. Porque eu tive sim alguns traumas lá atrás por ter desistido de coisas que hoje me fazem falta mas que, naquele momento, não me cabiam. E agora é mais difícil correr atrás. Mais ou menos naquela lógica do coaching de “daqui 10 anos você desejaria ter começado hoje”. Com certeza, mas se hoje eu to toda desgraçada da cabeça, com um monte de coisa pra resolver, morando num país governado por um genocida e sem perspectiva, como é que eu vou continuar fazendo um negócio que não tá dando certo e continuar feliz?
Por isso eu sempre fico ali no limbo de entender que desistir às vezes é bom e de achar que deveria insistir. Até que veio a Fernanda Montenegro.
Esses dias eu descobri uma entrevista da Fernanda Montenegro em que pedem um conselho para os novos atores e ela diz:
“Desista. Não passe perto. Saia disso. Agora, se morrer porque não ta fazendo isso. Se adoecer. Se ficar em tal desassossego que não teve nem como dormir. Aí volte. Mas se não passar por esse distanciamento e pela necessidade, não é do ramo.”
Fez todo o sentido.
Eu sou a pessoa que antes da pandemia chegava numa loja do shopping, escolhia uma roupa e não comprava. Se eu voltasse pra casa e ficasse pensando em como eu ia ficar linda naquela roupa, eu voltava e comprava. Se eu esquecesse é porque eu não queria tanto assim.
É por isso (e por não ter dinheiro) que eu tenho compra no carrinho de loja virtual que eu jamais vou finalizar. Porque eu não queria tanto assim.
Foi por isso que eu larguei o teatro em 2012 e absolutamente todos os dias da minha vida depois disso eu pensei que não queria ter largado. Eu podia estar fazendo as coisas mais legais do mundo, mas no fundinho ali da minha cabeça eu queria ter continuado. E aí eu voltei.
Porque desistir na hora nem sempre significa desistir pra sempre.
É tentar fazer outra coisa. E se ver que não dá, insistir. Geralmente funciona.
Viu, esse texto não é sobre relacionamento.
É sobre todas as outras coisas, menos relacionamentos.
Nem vem me usar de desculpa pra voltar com ex.
Cria vergonha nessa cara e segue em frente.
Um beijo e boa semana pra você.